Dias 4 e 5 de dezembro de 2018 aconteceu, no auditório da OAB/RJ, o II Congresso Nacional de Direito Sistêmico com a participação de Adhara Campos Vieira, servidora do TRT/DF que, no primeiro dia abordou o tema ” Superando o Superendividamento com as Constelações Familiares”.
Numa
breve entrevista, Adhara Campos Vieira fala um sobre os detalhes e a evolução
das Constelações Sistêmicas no Judiciário
Denise
Machado - Afinal
o que é Constelação Sistêmica
no Judiciário?
Adhara
Campos Vieira - A Constelação, usando o conceito da Úrsula
Franke, que foi a primeira pessoa que escreveu academicamente sobre o trabalho
de Bert Hellinger e sobre a Constelação Sistêmica, ela dá o seguinte conceito:
que é uma técnica terapêutica breve, que trabalha por meio de representações e
imagens, e é voltada para soluções. Então nesse conceito tem muitos outros
dentro; primeiro que ela é terapia e não é psicoterapia, então não é vinculada
à Psicologia; segundo, que ela é uma técnica ela não é um método, porque ela
usa o método da fenomenologia, então ela é uma intervenção, digamos assim,
terapêutica brevíssima, porque uma sessão de Constelação não passa de duas horas,
lógico que se o constelador for bom e souber fazer. Então ela é uma intervenção
breve, a pessoa não entra em acompanhamento psicoterapêutico, não fica voltando
para trabalhar o mesmo tema. Na verdade a gente faz como se fosse um
diagnóstico, uma intervenção pontual, e nessa intervenção a gente vai trabalhar
com a representação, que tanto pode ser um grupo de participantes, de
representantes ou numa sessão individual com as ancoras ou bonecos, algo que
marque o local da pessoa dentro da família, e trabalha com essa questão da
imagem interna, que é muito assim, o cérebro não define se um fato que está
sendo resignificado aconteceu realmente ou não. Por exemplo, a pessoa tem um
conflito com o pai, então colocamos um representante para o pai e ela vai
interagir com esse representante, e aquilo internamente, aquela imagem,
sedimenta dentro dela. Então é algo que é muito
efetivo por causa exatamente dessa questão do uso das imagens, e voltada
para a solução, porque ela não fique remoendo o tema, a gente olha para onde
ela está a força do sistema e conduz o cliente para se conectar com aquela
força. Por exemplo, no Sistema Familiar, se tem um emaranhado com pai , a força
está perto da mãe, a gente coloca ele em contato com essa mãe, e assim por
diante. Se eu for explicar no popular, eu diria que na Constelação você vai ver
a sua vida representada por outras pessoas. Então seria um teatro da vida. Tem
alguns aportes no psicodrama, na terapia familiar, na terapia sistêmica, e o
termo constelar é colocar, posicionar a família.
Denise
Machado - Para
que serve?
Adhara
Campos Vieira – Basicamente serve para
reincluir pessoas que estão excluídas dos sistemas familiares, seja por motivos
morais, seja por esquecimento, seja por exclusões realmente do próprio sistema
como se fosse banimento das pessoas, então agente vai reincluir. Depois
reconciliar as partes que estão em conflito, e por ultimo reordenar o sistema
familiar. O Christian Curioni até fala
que é o Re Re Re, que eu deveria patentear o Re Re Re , que é reincluir,
reconciliar e reordenar. Serve para trazer também à tona dinâmicas ocultas que
atuam no sistema familiar ou no sistema organizacional. Dou aquele exemplo do
filho que está casado com mãe. Às vezes ele não consegue arrumar uma
companheira, estar com uma mulher. E qual é a dinâmica oculta? É esse vínculo com a mãe. Ao invés de estar
numa relação mãe e filho, ele está numa relação inconsciente conjugal. Então a
gente traz à tona as dinâmicas ocultas que atuam nos sistemas. Sejam esses
sistemas familiares ou organizacionais. Serve então para trabalhar as
fronteiras das famílias. Trabalhar quem está no lugar de quem, e reordenar
esses papeis e essas funções.
Denise
Machado - Como
foi introduzida no Judiciário?
Adhara
Campos Vieira - Ela foi introduzida em 2012 no interior da Bahia.
Na época o juiz, Dr. Sami Storch começou a fazer alguns experimentos, e usando
a Constelação para ajudar a pacificar alguns conflitos na Vara de Família.
Depois o Tribunal de Justiça de Goiânia, a psicóloga Rosângela Montefusco,
mediadora e professora da PUC-GO, que é parceira no projeto, fez algumas
intervenções de Constelação dentro da Mediação. Em Mato Grosso do Sul, Dr.
Amilton Plácido da
Rosa, Procurador de Justiça aposentado do MP/MS. Professor de Educação
Sistêmica, Palestrante nas abordagens sistêmica (Constelação Familiar, Educação
Sistêmica e Direito Sistêmico) e Terapeuta Sistêmico, aplicou na Vara da
Infância e da Juventude, em situação de adolescentes que estavam em caso de
violência, e eu iniciei o projeto no Distrito Federal, no Tribunal de Justiça
do DF, então o DF é o quarto Estado que aplica, inicialmente na Vara da
Infância e da Juventude, trabalhando casos de adolescentes que estavam em
situação de exploração sexual, conflito com
autoridades,
dificuldade para ser reintegrado na família. Dai devido ao sucesso que teve com
esses atendimentos, me convidaram a atuar na Vara de Família, e ai como uma
pré-mediação, um centro de mediação. Então a gente separa os processos, fazemos
uma sessão de Constelação por temas em comum. Tem dias que a gente trabalha
inventário, tem dia que gente trabalha disputa de guarda, tem dia que gente
trabalha alienação parental, e depois esses processos, essas partes que
passaram pela Constelação são encaminhadas as sessões de Mediação. Então, hoje a maior parte dos
tribunais aplica como uma pré-mediação, que inclusive eu escrevi o projeto de
lei, que foi uma sugestão legislativa 41 de 2015, da Associação Brasileira de
Constelações Sistêmicas, da qual eu tenho muito orgulho de falar que eu
escrevi, que em 2017 eu fui à Câmara Federal e defendi essa sugestão, e hoje
tramita como anteprojeto de Lei n.º 9.444/2017 . Este Projeto de Lei é para
incluir a Constelação como um instrumento a mais de resolução de conflitos como
uma pré-mediação, e que os tribunais possam estar aplicando este recurso a
mais. Então eu vejo a Constelação como uma política pública, como algo que pode
ser um recurso a mais que o poder Judiciário e a justiça brasileira pode ter, para desafogar o
volume de processo que a gente tem hoje nas instâncias judiciais, e que
demoram. Hoje a gente tem um processo em média de sete anos de tramitação. A
Constelação você faz ali no primeiro grau, às vezes a parte ajuda a parte a
conciliar. O processo esta demorando em torno de quatro meses, então isso é um
grande avanço. A gente está tendo até 86% de acordo. Depois das Varas de
Família e Centro de Mediação, fui convidada a constelar, também, no Programa
dos Superendividados, que foi o tema da minha palestra, no primeiro dia do II
Congresso Nacional de Direito Sistêmico na OAB/RJ. Depois na Vara de Medidas
Sócio Educativa, dos adolescentes que cometeram infração e que estão
respondendo criminalmente, depois na Vara Criminal, esses casos eu não pude
relatar, não tive autorização do tribunal, e depois na Vara da Violência
Doméstica, que é onde hoje eu escrevo o Mestrado, na Universidade de Brasília, na UNB, em Direitos
Humanos, avaliando se a Constelação pode ser um bom recurso na violência
doméstica. Ainda está em fase de pesquisa. É muito importante que a Constelação seja pesquisada
e quantificada, dentro do Judiciário para que possamos avaliar em qual local
ela pode ser melhor aplicada. E o outro grupo que eu ando fazendo, também está tendo umas
sessões muito bonitas lá no DF, que é a Constelação da Adoção, que a gente
trabalha a entrega e o respeito aos pais biológicos, também muito bacana, onde
a Constelação traz essa noção de sistema, de que nós estamos interligados.
Então a criança quando ela é adotada ela traz todo o sistema familiar dela para
dentro esse sistema da família que esta adotando.
Sobre
Adhara Campos Vieira:
Mestranda em Direitos Humanos pela Universidade de
Brasília. Analista Judiciária, lotada no Conselho Superior da Justiça do
Trabalho (CSJT) no TST. Tem experiência na área de Direito, atuando
principalmente nos seguintes temas: mediação, conciliação, violência doméstica
e de gênero e constelação. Voluntária e idealizadora do Projeto “Constelar e
Conciliar”, em vigor no Tribunal de Justiça do DF desde 2015, em virtude de sua
pesquisa acadêmica. Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de
Brasília (UnB) e em Direito pelo Centro Universitário IESB, pós-graduada em
Controladoria Governamental pela Faculdade OMNI. Autora do livro “A Constelação
no Judiciário”, do artigo sobre o projeto do TJDFT: “A constelação como uma
política pública para resolução de conflitos”, publicada na revista jurídica
Fórum Trabalhista e do anteprojeto de Lei n.º 9.444/2017 que visa incluir a
constelação como política pública, ingresso em nome da Associação Brasileira de
Consteladores Sistêmicos em 2015 junto à Comissão de Legislação Participativa
da Câmara Federal.
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