Por: Elinalva Oliveira.
A deficiência visual se insere na história da humanidade segundo citações bíblicas, considerada um malefício comum e aqueles com a limitação, forçosamente era condenada a uma vida de expiação, pobreza e dificuldades, condição punitiva pelo ato maligno ou como um traço do destino, estando nas mãos do Criador, reverter tal condição.
Por minha vivência com alunos com deficiência visual acalentei um sonho para um dia visitar e conhecer a cidade luz cujo imaginário, vem da literatura e da sétima arte, o cinema. Meu olhar guardava traçados de uma cidade em misto de imagens e imaginação além da realidade.
Paris em cada construção antiga guarda uma história, as margens do Rio Sena (em francês: la Seine) é salutar admirar suas águas e as tradicionais e exuberantes pontes. Por isso, a cidade exala e conserva os traços de um glorioso passado, hoje patrimônio do mundo. A Paris que buscamos é a cidade dos nossos sonhos, parte de nossas utopias, preservando nesse território os feitos gloriosos de um grande benfeitor da humanidade: Louis Braille, o precursor da inclusão social, que abriu as portas do conhecimento, aboliu a exclusão, redimiu o sofrimento de seus pares, tornando-se cidadão do mundo.
Dizem que há sempre um anjo, um alguém especial atando o laço eterno da amizade tecida em outros tempos, talvez, do outro lado do céu, a quem nosso coração logo reconhece por ser nossa alma gêmea. Fui agraciada na vida pela presença desse alguém, protetor, amigo amado, pelos olhos e relatos desse admirador dileto e querido, companheiro de longa convivência e partilha estudantil, estando nesse país, para aprimoramento profissional, me transporta para esse mágico lugar pela ótica de seus olhos e sensível coração.
Aprendi
a admirar de longe essa cidade, pela descrição dada de cada lugar era tão
apaixonante, relatava-me momentos vividos em cada vilarejo nas cidades
francesas, suas estradas, as paisagens, seu povo, especialmente, em Paris. Seu
encanto por esse rincão plantou em mim, a vontade de também conhecê-lo. Suas
narrativas minuciosas armazenadas nas suas lembranças foram suficientes para transbordar-me
em desejo e encantamento.
Fora
ele que sem maiores intenções, semeou desejos, manteve acesa a chama alimentando
a quimera e a esperança de conhecer o decantado lugar citado em prosa e verso,
Paris ao vivo, e em cores. Quisera então os céus e o destino quem sabe, viesse
a realizar esse intento, embriagada pelas sensações e encanto desse apaixonado
visitante, na feliz estação outonal. Assim, me vejo em Paris e, lá estando,
almejando ir mais longe e como assinala Nietzsche,
“nada é tão nosso quanto os nossos sonhos”, ousei e realizei.
Na doce, charmosa e bela Paris, cidade dos grandes romances registrados em obras cinematográficas, dos grandes amores, dos mais agradáveis aromas traduzidos pelas afamadas perfumarias, da alta-costura, dos renomados chefes de cozinha, dos grandes monumentos e, da cidade-berço da cultura, me acolhe, Paris.
Muitos
compararam Paris como um grande museu a céu aberto. Tudo ali parece ter sido
criado propositadamente para o encantamento e deleite de quem a visita, constatando
a presença da felicidade.
Inicio essa linda história tecida sob o signo do amor, nesses ares parisienses, logo que cheguei à fantástica cidade visitando a exuberante obra arquitetônica de fama mundial da Cidade Luz: a iluminada Torre Eiffel, à noite seu brilho intenso realça a imponente “dama de ferro”. Fazia frio e mesmo com as pesadas roupas, era uma friagem sentida a nos saudar, não nos incomodava.
Em solo parisiense, outro pensamento se aflora, outra quimera guardada vem de mansinho invadir a alma: conhecer Couprvray de perto, ir a nobre casa, abrigo sagrado nos frios dias de inverno do genial Louis Braille. Esse sonho escondido, alimentado de forma silenciosa, distante, ali emerge, surge de ímpeto, e recorro aos céus para concretizá-lo. E por Deus, em companhia de outra viajante nos aventuramos a visitar o berço natal do menino que arrebatado pelo destino, deu vida e dignidade àqueles que assim como ele, experimentaram a escuridão.
Não
desperdicei a chance, e como bem assinala Sêneca, “O homem acredita mais com os
olhos do que com os ouvidos”. Na ida pensava nos idealistas iluministas na fratenité, igualité e liberté,
entretanto, o interesse maior era conhecer tudo aquilo que falava da liberdade
dada àqueles que sem visão, encontra no pequeno e valente cientista, Louis Braille, a redenção das suas
dores, livrando-os da terrível e profunda escuridão.
Tal
propósito, traçado de forma inusitado, nos encaminha ao processo sócio
histórico, para perpetuar a memória desse benfeitor, busquei ir ao cenário em
que um dia como bem assinalou Mário Quintana: ”viver é acalentar sonhos e
esperança”, e se esses são acalentados e sustentados na alma, em mim, eternizaram-se.
Visitar
a casa de um grande menino a quem o destino fere de morte, tirando-lhe a visão,
aos três anos de idade, mas sua genialidade tamanha faz com que espalhasse luz
ao mundo, Louis Braille, um infante
de nacionalidade francesa, o
criador do sistema de leitura e escrita para cegos por merecida homenagem,
recebeu seu nome “Braille”.
Estar em sua casa, dá uma reviravolta íntima, fazendo brotar sentimentos de comoção, felicidade, nostalgia, mistos de alegria e tristeza, queria estar ali rodeada por todos os meus amigos, especialmente meu mentor e juntos experimentar essa mágica do encontro nessa suavidade de uma tarde de outono, parecida estação invernosa.
Ainda do lado de fora, a espera se dá sob uma chuva de finas gotas pareciam brotadas da emoção, percebo não estar sonhando, despertada por tão límpidos pingos de chuva que cai. Convidadas a entrar nessa casa, se inicia a esperada visita diminuindo as aceleradas batidas do coração, adentramos no recinto natal do menino luz. Cheia de emoção, admiramos cada canto, cada lembrança preservada e descrita daquela família, daquelas paragens de Coupray, admiro os objetos pessoais do menino, do mestre cientista que livrou a muitos da cruel escuridão.
O
destemido Louis, criou algo adequado, manejável, exato, cabia na ponta do dedo,
capaz de realizar o que a linguagem escrita e falada podia contemplar. E assim,
o Sistema Braille em suas 63 combinações trouxe luz ao mundo formou todas as
letras do alfabeto, acrescentou acentos, sinais de pontuação, os signos
matemáticos utilizando apenas seis pontos e alguns pequenos traços horizontais.
E para
que seu genial feito jamais seja esquecido, Paris te reverencia e te guarda em
seu Panteão cuja inscrição traz o
interessante brocardo: “Aux grands hommes, la patrie reconnaissante” (“Aos
grandes homens, a pátria é grata”). Louis
Braille nasceu no dia 04 de janeiro de 1809. E viva o precursor da inclusão
social no mundo.
Elinalva
Oliveira.
elinalvaalves@yahoo.com.br
Aplausos para Jornalista Denise pela matéria de interresse internacional: “Paris e Louis Braille, presentes em meus sonhos” assinado pela Mestre Elinalva Oliveira.
ResponderExcluirUma obra primorosa! Parabéns a excelente autora e sua equipe de riqueza cultural imensurável, obras assim sensibilizam e fortalem a grandeza da humanidade, Parabéns
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa voltada para o bem comum. Ambas,a jornalista Denise Machado e a educadora Elinalva Alves,merecem 👏🏼👏🏼 e 💐💐 por abordarem tema tão relevante. 🙋🏽♀️
ResponderExcluir☝🏼Angeli Rose(AJEB-RJ): PARABÉNS!!!
ResponderExcluirCélia Maria Leite (AJEB-CE)
ResponderExcluirAplausos para Jornalista Denise pela matéria de interresse internacional: “Paris e Louis Braille, presentes em meus sonhos” assinado pela Mestre Elinalva Oliveira.
Parabéns 👏👏👏👏
ResponderExcluirGratidão pelo lindo e precioso conteúdo.
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