Crianças e facas!
Lembram-se
dos “falcões, os meninos do tráfico”? Pois é, eles se armaram de facas e
desceram dos morros, e agora roubam e esfaqueiam pessoas aqui embaixo, porque
lá em cima não tem mais vagas. É isto aí, não tem mais vaga para trabalhar
com os traficantes.
Minha
“filosofia” superficial de escritório já me permite concluir algumas coisas:
só existe o passado, o presente e o futuro não existem! Nosso país, nossas
autoridades e nossos governantes, quase todos medíocres, precisam encontrar
algum pingo de interesse e de sensibilidade, e precisam se indignar com a
violação dos direitos de nossas crianças e adolescentes, alvos de leis
avançadas, mas injustamente não aplicadas.
Não
estou defendendo adolescente infrator nenhum, muito pelo contrário. Tem que
ser punido mesmo! Só estou dizendo que em nosso país só o passado existe, e
ele está dentro de nós agora um pouco pior. O futuro nunca chega! Prometem,
prometem, prometem, e nada acontece. Depois que passou o filme / documentário
/ realidade “falcões, meninos do tráfico”, em 2007 salvo engano, esperávamos
que o mesmo daria ensejo a estudos sérios dos direitos humanos fundamentais,
e à implementação de políticas e projetos sociais também sérios voltados para
a proteção integral das crianças e dos adolescentes, como manda a
Constituição Federal. Mas nada aconteceu!
E
é justamente o que vai ocorrer agora: tudo o que vai restar, depois da
passeata do domingo na Lagoa, será uma indignação momentânea e passageira que
não vai tirar o sono de ninguém, muito menos vai preocupar a grande
maioria. Mas, sabem qual é a grande ironia? Nós continuaremos sendo as
vítimas dos futuros “Falcões”, agora armados de facas, como já somos há muito
tempo. Seremos eu, o senhor leitor, nossos amigos, nossos filhos e nossos
netos diante de crianças e facas.
O
nosso Estado é um balão pronto para estourar, e nós precisamos descobrir com
urgência o ponto exato que antecede a sua ruptura, porquanto não dá mais para
suportar tanta miséria, tanta indiferença e tanta degradação. Obras
“olímpicas” nós temos aos montes, mas educação, saúde e dignidade minguam em
cada esquina. Não podemos mais suportar nosso sistema de saúde em frangalhos,
nossa educação aviltada, e nossa esperança amputada: não há prótese para nada
disto! A dignidade de todos os seres humanos, em nosso Estado, não passa de
letra morta da Constituição Federal, e às vezes me parece que nossas
autoridades estão esperando chegar até o limite em que podem ir, para só
então partir em seus helicópteros. Será quando elas descobrirem, tarde
demais, que deixaram tudo chegar longe demais! Nosso Estado, senhores, há
muito tempo decidiu participar do banquete supremo da civilização: o da
decadência.
Educação
senhores! É a palavra, é a solução. Educar as massas, levá-las para o
território educacional, aquilo que Norberto Bobbio tão em apregoava, quando
falava da promessa maior não cumprida pela democracia: a educação
para a cidadania. Pela educação, dizia o filósofo, indivíduos passivos
tornam-se cidadãos ativos, afastando o perigo de se transformarem em ovelhas
dedicadas tão somente a pastar o capim, e não a reclamar quando o capim é
escasso. Ou damos um jeito de colocar estas crianças e adolescentes nas
escolas, ou vamos morrer cada vez mais nas mãos deles. Temos que ensinar a
eles o que existe de melhor, antes que eles nos mostrem o que estão
aprendendo de pior. Não acredito nas autoridades de meu Estado, mas a minha
esperança tem que ser a última a morrer! Não quero um dia ser um a ficar
diante de crianças e facas.
* Wanderley Rebello Filho é Conselheiro da OAB/RJ, Presidente das Comissões de Políticas sobre Drogas
da OAB/RJ e da OAB/Barra da Tijuca.
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sábado, 23 de maio de 2015
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