“ O voo do anão"
*Wanderley Rebello Filho
Um
caso pitoresco é o “caso do lançamento de anão”, que chegou até o Comitê de
Direitos Humanos da ONU. O caso é mais ou menos assim: o “lançamento de anões”
era, ou é, uma brincadeira (ou esporte, para alguns) na qual anões, vestindo
roupas de proteção, são arremessados em direção a um tapete acolchoado,
vencendo aquele que conseguir lançar o anão na maior distância possível.
Pois
bem. O certo é que, em uma cidade francesa chamada Morsang-sur-Orge, a
Prefeitura, utilizando seu poder de polícia, resolveu interditar um bar onde
era praticado o lançamento de anões, argumentando que aquela atividade violava
a ordem pública, pois era contrária à dignidade da pessoa humana.
Não
se conformando com a decisão do Poder Público, o próprio anão, Sr. Wackenheim,
questionou a interdição, argumentando que necessitava daquele trabalho para a
sua sobrevivência. O anão argumentou que o direito ao trabalho e à livre
iniciativa também seriam valores protegidos pelo direito francês e, portanto,
tinha o direito de decidir como ganhar a vida.
A
Prefeitura se esqueceu de ouvir o anão!
Lembro-me
de que, quando eu era estudante de Direito na PUC/RJ, entre 1976 e 1980, já me
sentia desconfortável com a legislação trabalhista, pois achava que a mesma
gerava desemprego, e violava a livre iniciativa, a liberdade contratual e o
direito de escolha, entre outros direitos humanos, fundamentais ou não.
Eu
conversava com os colegas de faculdade e da esquina que eu frequentava, e era
quase unânime o pensamento no sentido de que, caso não fosse a legislação
trabalhista com seus absurdos e pesados encargos, todos nós poderíamos ter mais
empregados domésticos. Mas, quanto a ser contra a legislação trabalhista, eu
era invariavelmente vencido. Por exemplo, meu pai sempre dizia que, se não
fossem a legislação e os encargos trabalhistas, ele teria mais empregados
domésticos. E meus tios diziam o mesmo!
Hoje,
continuo a ser contra esta absurda legislação trabalhista e seus encargos.
Aliás, agora estou muito mais contra! O que estão fazendo os legisladores, no
meu ignorante pensamento, vai gerar demissão em massa, e tiro como exemplo a
realidade que enxergo perto de mim. De cada 10 famílias que conheço, ao menos 9
vão demitir empregados domésticos. Conheço família que, dos cinco empregados
domésticos que tem, três serão (ou melhor, já foram) demitidos.
Sempre
pensei que seria melhor a liberdade contratual. Prefiro pagar um salário mínimo
maior, a ter que arcar com pesados e extorsivos encargos sociais. Pagar INSS,
recolher FGTS, pagar PIS, PASEP, GPS, GVT, Sodexo... caraca... ou quaisquer
outros impostos, tributos, benefícios, seja lá o nome que for, deveria ser
direito do trabalhador, não dever do empregador. Mas, o trabalhador que o
recolhesse, se quisesse fazê-lo. A quem interessa esta obrigação? Do meu ponto
de vista, muito mais ao poder público do que ao empregado ou ao empregador.
Ficam bilhões de reais à disposição do poder público!
Meu
maior arrependimento foi começar, bem novo, a pagar o INSS. Depois de algumas
décadas pagando, jamais tive qualquer benefíco para a minha saúde, pois tenho
que, paralelamente, pagar um plano de saúde e uma aposentadoria complementar.
Não posso sequer desistir e pegar o que já paguei de volta! Não ia querer nem
juros, nem correção monetária! Mas, “os espertalhões” não devolvem! E quando eu
me aposentar pelo INSS, minha aposentadoria não dará para pagar sequer o
“empregado doméstico” do futuro!
Prefiro
a liberdade contratual, a liberdade de escolha, a livre iniciativa. Eu gostaria
de escolher o meu horário de trabalho, o meu salário, e pagar os “benefícios”
supostamente criados para mim se eu quisesse. Já ouvi, há poucos dias, uma
empregada doméstica dizer mais ou menos isto, com as palavras dela, depois de
tomar conhecimento dos absurdo “legais” e inoportunos que vem por aí!
Os
legisladores, em sua maioria incompetentes e em busca de notoriedade e de
votos, não ouviram os empregadores nem os empregados. Não ouviram os “novos
anões” que vão ficar desempregados e desamparados neste voo cego para o “olho
da rua”.
Com certeza eu estou errado, até porque este não é o pensamento da maioria
dos profissionais do direito que eu conheço. Mas, é meu pensamento e ponto final!
Eu teria
ouvido o Anão, e deixaria ele voar livre para onde quisesse, porque não deveria
estar ao meu arbítrio decidir acerca de sua honra, de sua dignidade. Deixem que
ele escolha, e que seja feliz ou infeliz com o que decidir. Quanto aos empregados
em geral, e aos empregados domésticos em particular, peço que pesquisem a
legislação trabalhista pelo mundo afora, e vocês verão que, o que impera em
nosso país, é a insensatez e a hipocrisia.
* Wanderley
Rebello Filho é Conselheiro da OAB/RJ e Presidente da Sociedade Brasileira de
Vitimologia
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